A subjetividade ameaçada

um desafio para a psicanálise

Autores

  • Sonia Abadi Associação Psicanalítica Argentina

DOI:

https://doi.org/10.60106/rsbppa.v5i2.133

Palavras-chave:

Subjetividade, Sobreadaptação, Personalidade narcisista

Resumo

A descrição de um personagem que pode aparecer atualmente em nossa consulta serve de pretexto para falar de novos transtornos de caráter e seus sintomasmais freqüentes. São pacientes que possuem rigidez nas adaptações, relação predominante com o mundo externo em detrimento do mundo interno, dificuldade para fantasiar, tendência à ação, escassa angústia com um transtorno difuso do pensamento simbólico, como que sobreadaptado por um transtorno narcisista oufalso self. Sabemos que esse tipo de paciente pode recorrer ao “poder da mente”, às “técnicas de autoprogramação”, ao “controle da mente” ou a alguma outra técnica que lhes prometa mais controle sobre seu mundo interno e melhor controles obre os outros e a realidade. Como último recurso, alguns deles chegam aos nossos consultórios referindo-se um mal-estar indefinido. Com muita freqüência são encaminhados por seu clínico ou especialista, devido a transtornos somáticos. Mas também nos chegam desesperados e confusos como pais de um adolescente adito ou de uma criança com transtornos de conduta; algumas vezes frente à enfermidade depressiva deseu cônjuge, ou ao divórcio ou à falência econômica. Nem sempre permanecem. Atualmente, preocupam-nos cada vez mais esses transtornos, nossa demanda clínica de cada dia. Mas, ainda mais: se bem parece evidente que a sociedade atual facilita o aparecimento de certas patologias, não se poderia dizer também que foi a psicanálise quem reconheceu “certa anormalidade” em personalidades aparentemente sadias, mas com graus variáveis de carências emocionais ou transtornos de caráter? Nesses casos, trata-se de pacientes com transtornos de personalidade cuja particularidade reside em que estão em sintonia com alguns ideais da civilizaçãoatual. Pensei em denominá-los “sóciosintônicos”. Talvez essas características tampouco sejam consideradas sintomáticas pelo paciente, salvo por algumas dificuldades colaterais. Trata-se, em geral, de traços valorizados e que não pretende modificar: capacidade para tomar decisões rápidas, orgulho por poder conter as emoções, adição ao trabalho, satisfação por realizar uma atividade ilimitada, supervalorização da autonomia e ainda da habilidade para transgredir as normas e leis. Alguns são quadros clássicos nos quais se reforçaram aspectos socialmente valorizados, outros são conhecidos desde sempre como patologias sociais, outros requerem descrições mais originais. Sujeitos dissociados de sua realidade psíquica e suas emoções, que às vezes reaparecem com violência incontrolável. Novas patologias em relação aos valores de nossa civilização? Seria arriscado afirmar, mas as coincidências são muitas.

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Biografia do Autor

Sonia Abadi, Associação Psicanalítica Argentina

Psicanalista. Membro Titulare Didata da Associação Psicanalítica Argentina.

Referências

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Publicado

07.12.2003

Como Citar

Abadi, S. (2003). A subjetividade ameaçada: um desafio para a psicanálise. Psicanálise - Revista Da Sociedade Brasileira De Psicanálise De Porto Alegre, 5(2), 513–527. https://doi.org/10.60106/rsbppa.v5i2.133

Edição

Seção

Conferências