As bases primitivas da perversão e sua relação com o objeto aditivo
DOI:
https://doi.org/10.60106/rsbppa.v1i1.6Palavras-chave:
Psicanálise, Perversão, Adição, Internalização, Técnica psicanalíticaResumo
Neste trabalho, o autor, partindo de um exemplo clínico e das idéias de Freud sobre escolha de objeto anaclítica e auto-erotismo, examina as bases primitivas da perversão e sua relação com um objeto aditivo. Considera a forma preconceituosa com que a perversão é tratada em dicionários e por muitos autores psicanalíticos como um entrave para uma melhor compreensão deste problema clínico. Chama a atenção o fato de que tal conduta contradiz o esforço de Freud em descrever a perversão como um fenômeno que faz parte da personalidade normal e se constitui em uma etapa indispensável para o desenvolvimento psicossexual. Como conseqüência, o perverso corre o risco de ser visto pelo analista apenas como uma pessoa doente, agressiva e até má, por não conseguir realizar a união dos genitais em um ato que se designa coito. Além disto, o ato perverso pode ser a última barreira que defende o indivíduo de uma desintegração psíquica e, por essa razão, deveria ser tarefa indispensável avaliar como essa manifestação se insere na estrutura total da personalidade. Outro ponto desenvolvido pelo autor é o da origem das perversões. Para ele, acompanhando as idéias de Freud, as pulsões sexuais derivam da forma anaclítica das necessidades de autoconservação e devem por isto destacar-se, progressivamente, do objeto original real, a fim de atingir a satisfação auto-erótica, antes de chegar à escolha de objeto futuro. Isso acontece quando o indivíduo abandona o seio e começa a chupar o polegar. O autor acredita que é nessa passagem que pode estar o ponto de origem das perversões e que ela depende da impossibilidade da introjeção de um objeto prazeroso devido a conflitos na interação mãe-bebê. Como decorrência dessa falha, o bebê busca, compulsivamente, um objeto que, embora não proporcione internalizações por desaparecer logo que cumpre as suas finalidades, acalma o indivíduo tal como uma droga. Esse objeto é denominado de objeto aditivo. Finalmente, a partir da experiência clínica relatada e das considerações teóricas desenvolvidas, o autor pretende chamar a atenção para o fato de que um analista que não compreenda a complexidade do fenômeno perverso acaba funcionando como uma droga, como um objeto aditivo, que se constitui em uma réplica de um objeto do passado que o paciente procura, desesperadamente, no anseio de manter a sua integridade psíquica. Por essa razão, acredita, que no tratamento das perversões, a técnica deveria ser modificada no sentido de que a interpretação do que está sucedendo deva ser substituída por perguntas e assinalamentos, até que o paciente possa construir uma imagem interna de um objeto prazeroso.
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