Sobre a impossível separação entre psíquico e social na psicanálise
DOI:
https://doi.org/10.60106/rsbppa.v27i1.911Palavras-chave:
Decolonialidade, Escuta analítica, Gênero, Normatividade, Psicanálise, RaçaResumo
Neste artigo, a autora explora a possibilidade de uma psicanálise que dialogue com as teorias feministas, decoloniais, de gênero e antirracistas, defendendo que integrar tais aportes teóricos à psicanálise não descaracteriza sua epistemologia nem sua clínica. Ela argumenta contra a noção de uma psicanálise “pura”, visto que as normas sociais de gênero e raça já permeiam necessariamente toda escuta e toda teoria. A negação da existência dessas dimensões normativas arrisca patologizar sujeitos e reproduzir opressões mesmo dentro do enquadre analítico. Propõe reconhecer a psicanálise como um “saber situado”. Enfatiza a inseparabilidade entre o psíquico e o social, considerando que as normas que dividem as existências entre inteligíveis e ininteligíveis ganham maior potencial de (re)produzir abjeções quando não reconhecemos tais normatividades. Defende, por fim, uma clínica que acolha as experiências de opressão, reconhecendo que o social nos constitui e, portanto, já está intrinsecamente “dentro” do enquadre analítico.
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